quarta-feira, 9 de março de 2011

Sinta-se em casa.

Quando era bem criança nos primórdios da aula de ciências, lembro que a professora nos contou que o homem, digo, o ser humano também era um animal. Não sei dizer se a reação de todos foi a mesma que a minha, apesar de minha cara pacífica e meu freqüente olhar de distração, no fundo eu senti certo estranhamento, era difícil assimilar o homem com a imagem que eu tinha de animal. Hoje entendo que é porque o homem sempre coisificou tudo que lhe parecesse inferior, e nesse sentido, é difícil dizer o que o homem não considera inferior, principalmente nos dias de hoje.

Mas minha alma de criança, apesar de programada, não via o homem como um ser superior no sentido de mais capacitado e evoluído, mas sim no sentido de que ele sabia usar das ferramentas para promover mudanças, e que essas mudanças deviam abranger um bem maior, no caso, isso incluiria o que seria o “inferior”. “A Terra como casa do homem”, particularmente acho que a frase não devia ser assim. “O homem como hospede na Terra”, com certeza, elaborando dessa forma, a Terra toma seu verdadeiro papel, o principal. Por que mesmo a idéia de “casa” tem lá sua inferioridade perante o modelo hierárquico da vida construído pelo homem, agora, como hospede, você sempre vai precisar de usar a cordialidade, mais do que necessária durante a convivência.

Mas, a frase “A Terra como casa do homem”, pode ter lá sua utilidade psicológica, afinal, a forma como você trata a Terra é a forma como você se porta em sua casa, e a forma oposta também é válida. Mas não digo de forma literal, isso não quer dizer que o fato de deixar seu quarto bagunçado simbolize um desleixo pela organização social... O que quero dizer, é que se você tem olhos severos perante a postura de outrem na sua casa, provavelmente vai ter a mesma severidade na analise das posturas sociais. E mesmo nos raros momentos em que tiramos a marcara social, e deixamos toda nossa suavidade e espontaneidade tomar conta, isso ainda se reflete no seu olhar perante o mundo, se te julgas inapropriado sem a máscara, fará o mesmo juízo a qualquer outro que tenha correspondência de comportamento.

Agora, o homem assumindo o seu papel de hospede, talvez as proporções negativas de seus atos sejam repensadas, se o homem, começar a se ver como de fato é – apenas mais um animal, e em pé de igualdade com todos os outros seres vivos – ele passará a respeitar mas a casa em que está hospedado. Pois, veja bem, as diversidades culturais permitem formar grupos, e esses grupos só se formal pois se identificam uns com os outros. Se o homem, de alguma forma tiver, pelo simples fato de ser “ser vivo”, uma identificação com os outros, de forma a ser superior a essas variedades, o respeito mutuo seria possível e posto em prática. Se você está hospedado em uma casa, deve saber que há necessidade de respeitar o espaço do outro, respeitar as idéias dos outros, e até mesmo aprender a conviver com isso de forma a te acrescentar como pessoa, pois é assim que o homem deve se enxergar em sua breve hospedagem na Terra.

E se você não quer que a casa em que está desabe, deve prezar pelo seu bom funcionamento, de forma a não interferir em nada que impeça a sua harmonia, logo, tudo que é elemento natural dela, e que na maioria das vezes é anterior a você deve ser bem cuidado e respeitado. Principalmente pensando no fato, de que próximos hospedes viram, e que eles devem ter o direito de aproveitar a casa no máximo de suas potencialidades.

E sim, apesar de pertencer a geração que cresceu ouvindo a ladainha, nem sempre verdadeira, da sustentabilidade, ser a geração vista pelas mais velhas como vazia e sem fundamentos críticos, a geração consumida pelo marketing verde e tecnologias da globalização, a geração do "look at me"... Acho completamente coerente a minha história de conto de fadas acima, porque afinal, as grandes mudanças sempre começaram com a idealização de um sonho. Clichê, mas fato.


Um comentário:

Diego Leão disse...

Querida "Eu não gosto de cerveja",

Vc coloca uma questão realmente meio que existencialista, do lugar que estamos, porque é assim, fala grande casa que moramos e etc. Enfim, mas expressa um desejo pelo diferente. As utopias de um outro tipo de mundo que se espera. E vai boa parte do texto nesse sentido. No final, vc vai e meio que destrói tudo isso. E se para alguns pareceu ingênuo o que vc tinha dito até ali seu último parágrafo é meio que um soco na cara dessas pessoas. Pq vc questiona o que vc disse, mas não descarta a concepção que de certa maneira vc expressou no texto que é de que é nos sonhos que são gerados os caminhos alternativos para realidades que são colocadas como dadas.

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