quarta-feira, 25 de abril de 2012

Anotações breves de conflitos extensos

Existem apegos estéticos que assombram a mente e esses ocultam a sinceridade de sentimentos e sensações oriundos da mais pura leveza do ser.
Aprecio sentir que a partir da minha não-violência eu posso fazer o inquieto gostar de mim.
Canais podem ser limpos com sonoridade.
Toda curiosidade vem da necessidade de interpretação território/lugar/paisagem/espaço.
E por fim gostaria de agradecer a todos por sua ilustre presença no teatro de improvisação da minha vida. Por favor não deixem gorjetas.
As vezes a constância te da o inconstante que te agrada. Quem fica parado congela.
Pessoas sensíveis sempre associam gostar com zelo, mas elas não são as únicas certas.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Baile do desajuste


Noite, em uma avenida de grandes paralelepípedos anda um criança-moça de aparência moldável e flexível, sempre anda conforme o andar da carruagem. Tropeça as vezes, se esconde atrás de postes, senta na calçada. Seu trajeto é único e definitivo, está sempre perdida. Por todo esse emaranhado de ruas quase idênticas existem diversos ambientes, com portas convidativas, com luzes chamativas (ou não), com cores vibrantes (ou não). Ela cambaleando como bêbada, bêbada de si, tropeça no degrau e assume a mais nova aventura da noite, dessa eterna noite em que vive. Se redefine. É mais viável se portar assim, é mais viável usar trajes assim, é mais viável se conter, é mais viável não ser. Uma luz amarelada, um bar. Um atendente que está sempre limpando os copos com seu pequeno pano de prato branco como neve, exibe um belo bigode em seu rosto, lembra um português. Vê a moça que se aproxima ainda com ar embriagado, lhe é cortês, pergunta o que deseja com letras graves, demonstrando toda sua decisão de estar ali. Ela se sente acuada (como se sente por qualquer outra coisa), mas é mestre na arte de desfilar semblantes plácidos, sabe como ninguém representar um teatro social, reconhecendo a máscara que melhor lhe cabe no momento. Solta alguma frase genérica, mas que tenha algum impacto, pois quer ser suave, mas nem tanto... Mesa de sinuca, o tecido verde nunca parecerá tão verde. Copos e canecas de decoração, parecia algo familiar, como a casa de algum parente querido que mora longe. Se sente mais a vontade, mais do que se sentiria na casa do parente que possui o mesmo tom, tom de gargalhada alta e ofensiva. Mas com ela geralmente é assim, se sente mais livre no não-familiar. É mais fácil fazer cena quando ninguém te viu crescer... Vazio. Sem ninguém. Senta em um banco de madeira, e como está sozinha, não precisa fazer tipo, nem social. Mas faz, pois a vida sempre lhe convida para o baile. Passa algum tempo olhando para o nada, pensamentos que nunca se concluem latejam em sua mente, é confusa, mas não assume, tem vergonha de assumir. Chegam pessoas de desejável companhia, e algum vazio, em algum canto de si se preenche. Ainda assim parece não estar satisfeita, como se sempre houvesse um banco vazio ao seu lado, como se nada fosse tão importante assim. O que não é surpreendente, já que não é tão afável para si mesma. Se sente frágil, mas convém engolir um pouco de alegria, e desfilar seu bom humor, que claro, combina com seus novos jargões. São horas agradáveis, não há do que reclamar. Mutilou a todos com seu teatro, funcionou mais uma vez a sua fórmula mágica da aceitação social. Ela levanta antes de todos, retribui o bom atendimento com simpatia: sua mais válida gorjeta. Volta para seu (des)trajeto antigo e segura a máscara enquanto ainda podem lhe ver. Ainda não achou o que procurava. Vê na esquina, algo que parece ter alguma resposta para a pergunta que ainda não achou. Dessa vez está sozinha de si, cansada de ser, vai deixar se florir de si no próximo papel, distante e contida. É uma floricultura, também distante e contida. Se sente bem, como sempre se sentiu perto dessas coisas carregadas de energia pura. Cheira algumas flores, observa os detalhes das folhas e algumas lembranças saudosistas pulsam. Sente falta, mas sabe que não deve sentir, por isso disfarça pra si. Fica um pouco mais, finge analisar pra tentar se recompor. Se recompor disso que lhe falta. Mas, o que lhe falta? Resolve sair, antes que isso volte a ser maior do que ela. Tem medo de descobrir que essa é a resposta. Não achou o que procurava. Sai. Caminha algumas quadras, dessa vez com ritmo de caminhada. Está fugindo, mas não quer que percebam. Para em frente a uma escola, resolve não entrar e fica parada ao lado do pipoqueiro. Gargalhadas são mais doces quando florescem em corações sem amargura. Não que ela seja amargurada, apenas não consegue apreciar com tanto louvor todo esse teatro da alegria material. Parece hipocrisia o quão é boa atriz nessa peça que não lhe convém. Se lembra de quando começou a afogar dentro dos outros, sempre se entregou tão assídua que não conseguia interpretar. Quando percebe tudo que é abstrato deixou de existir, tempo e espaço não estão mais ali. Ela também se mergulha dentro de si. Mas não se encontra lá, está perdida dentro de seu perdido. A única coisa que sente e vê é uma névoa sentimental colorida e por vezes cintilante que obstrui todo seu raciocínio lógico e claro. E ela, a névoa, está lá, cobrindo as ruas, tampando as fachadas e transformando tudo nos seus eternos conceitos pontuais e vagos sobre tudo que lhe circunda, Como se tudo pudesse ser nomeado de uma forma genérica, sem atribuir adjetivos e qualidades, mas no mesmo padrão de suas máscaras. Vê o pipoqueiro: Tão puro. Farmácia: Tão sintético. Supermercado: Tão múltiplo. Loja: Tão fútil. Carro: Tão prático. Chão: Tão Frio. Mãos: Tão quentes. Olhos: Tão profundos. Água: Tão sincera. Nós: Tão unos. Eu: Tão vazia.

E só percebe que andou algumas ruas, quando um conhecido a vê de longe e solicita a sua adorável presença. E agora? qual o melhor traje pra essa ocasião? Ela está presa nesse jogo, e não sabe mais como jogar os dados. Quer ter hálito fresco.

domingo, 17 de julho de 2011

Só se for canastra suja

As pessoas “encontram alguém” porque são animais: nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem. A diferença é que o animal-humano gosta de jogar, criou assim vários jogos pra preencher seus vazios enquanto seguem o ciclo natural. Joga ter uma profissão, joga consumismo, joga estudar, joga vida social, joga sair com os amigos, joga ter sentimentos, joga as leis morais, joga conversa fora, joga ver TV enquanto se entedia com os mesmos jogos diários, joga se entupir de comida tóxica pra depois jogar ir no médico, joga procurar alegria em coisas efêmeras, joga construir algo durante toda a vida, joga trocar de romance, joga ser independente, joga sofrer de amor, joga sentir falta, joga angustia, joga almoços de família, joga chorar de alegria, joga praticar seus esportes favoritos, joga julgar os outros, joga acreditar, joga desacreditar, joga status social, joga ter opiniões, joga apegar, joga desapegar, joga ser indiferente, joga querer fazer a diferença... A cada momento, a cada segundo, um jogo, novo ou repetido, alguns possuem um vencedor, outros nunca terminam, mas no fundo, por mais que esse jogo te entedie você sempre vai torcer por um número alto nos dados. Por quê? Porque você joga a pressa.

domingo, 19 de junho de 2011

Membrana


E será que há dito sujeito que, por estar dentro demais, nunca tenha olhado ao seu redor com olhos de quem tem gula pelo algo que não se sabe explicar? Que sorri mostrando dentes de certeza, que abraça o ciclo sintético das coisas crendo que este seja o natural e crê sem questionar nesse jogo imobiliário, vendo neste finito criado o infinito que só o incerto nos dá (ou não) a (in)certeza de existir. E o que há dentro deste grave e áspero que ainda não o despertou para o que lhe circunda? Que ainda não jogou para dentro de si toda(s) a(s) duvida(s) que desconstroem o tudo e lhe revelam o nada, e coloca o nada como a chave do tudo. Mas por outro lado, ninguém questiona as questões, o porquê dos porquês, e o porquê delas surgirem, será que estou tão errada quanto quem não questiona o que ingere?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sinta-se em casa.

Quando era bem criança nos primórdios da aula de ciências, lembro que a professora nos contou que o homem, digo, o ser humano também era um animal. Não sei dizer se a reação de todos foi a mesma que a minha, apesar de minha cara pacífica e meu freqüente olhar de distração, no fundo eu senti certo estranhamento, era difícil assimilar o homem com a imagem que eu tinha de animal. Hoje entendo que é porque o homem sempre coisificou tudo que lhe parecesse inferior, e nesse sentido, é difícil dizer o que o homem não considera inferior, principalmente nos dias de hoje.

Mas minha alma de criança, apesar de programada, não via o homem como um ser superior no sentido de mais capacitado e evoluído, mas sim no sentido de que ele sabia usar das ferramentas para promover mudanças, e que essas mudanças deviam abranger um bem maior, no caso, isso incluiria o que seria o “inferior”. “A Terra como casa do homem”, particularmente acho que a frase não devia ser assim. “O homem como hospede na Terra”, com certeza, elaborando dessa forma, a Terra toma seu verdadeiro papel, o principal. Por que mesmo a idéia de “casa” tem lá sua inferioridade perante o modelo hierárquico da vida construído pelo homem, agora, como hospede, você sempre vai precisar de usar a cordialidade, mais do que necessária durante a convivência.

Mas, a frase “A Terra como casa do homem”, pode ter lá sua utilidade psicológica, afinal, a forma como você trata a Terra é a forma como você se porta em sua casa, e a forma oposta também é válida. Mas não digo de forma literal, isso não quer dizer que o fato de deixar seu quarto bagunçado simbolize um desleixo pela organização social... O que quero dizer, é que se você tem olhos severos perante a postura de outrem na sua casa, provavelmente vai ter a mesma severidade na analise das posturas sociais. E mesmo nos raros momentos em que tiramos a marcara social, e deixamos toda nossa suavidade e espontaneidade tomar conta, isso ainda se reflete no seu olhar perante o mundo, se te julgas inapropriado sem a máscara, fará o mesmo juízo a qualquer outro que tenha correspondência de comportamento.

Agora, o homem assumindo o seu papel de hospede, talvez as proporções negativas de seus atos sejam repensadas, se o homem, começar a se ver como de fato é – apenas mais um animal, e em pé de igualdade com todos os outros seres vivos – ele passará a respeitar mas a casa em que está hospedado. Pois, veja bem, as diversidades culturais permitem formar grupos, e esses grupos só se formal pois se identificam uns com os outros. Se o homem, de alguma forma tiver, pelo simples fato de ser “ser vivo”, uma identificação com os outros, de forma a ser superior a essas variedades, o respeito mutuo seria possível e posto em prática. Se você está hospedado em uma casa, deve saber que há necessidade de respeitar o espaço do outro, respeitar as idéias dos outros, e até mesmo aprender a conviver com isso de forma a te acrescentar como pessoa, pois é assim que o homem deve se enxergar em sua breve hospedagem na Terra.

E se você não quer que a casa em que está desabe, deve prezar pelo seu bom funcionamento, de forma a não interferir em nada que impeça a sua harmonia, logo, tudo que é elemento natural dela, e que na maioria das vezes é anterior a você deve ser bem cuidado e respeitado. Principalmente pensando no fato, de que próximos hospedes viram, e que eles devem ter o direito de aproveitar a casa no máximo de suas potencialidades.

E sim, apesar de pertencer a geração que cresceu ouvindo a ladainha, nem sempre verdadeira, da sustentabilidade, ser a geração vista pelas mais velhas como vazia e sem fundamentos críticos, a geração consumida pelo marketing verde e tecnologias da globalização, a geração do "look at me"... Acho completamente coerente a minha história de conto de fadas acima, porque afinal, as grandes mudanças sempre começaram com a idealização de um sonho. Clichê, mas fato.


domingo, 8 de agosto de 2010

Qual ticket você comprou!?


É... Esse tom de deboche realmente me auxilia na difícil tarefa de desenhar o meu desdém pela necessidade primária de me ignorarem. Pode não parecer - é claro que não parece, eu faço questão de fingir que isso não existe em mim - mas me dói (em progressão geométrica) o rumo de minhas relações humanas. "Foda-se", palavra vulgar e inerente em meu vocabulário de respostas à postura infame de meus queridíssimos colegas de infância - eles, tão preocupados com a sua pomposa imagem social, não podem (é claro) adicionar em redes sociais pessoas de moral tão deslustre, gente vil, que não sabe se vestir. Por que para essa massa de gente notável e com perfeitas condições morais para julgamento: Reputação manchada é sinônimo de mesquinharia, sinônimo de ingresso para as reclusas cadeiras da exclusão, logo, mesmo que sejam seus amigos de infância, ou pessoas que te viram crescer, se cruzar em alguma esquina de sua pacata cidade por "esse tipo de gente" a conduta correta e mais indicada pelos orgãos de segurança pública é o velho e clássico teatro de "desconheço você" ou ainda uma sagaz e prática encenação da peça "sou uma pessoa distraída", alertamos ainda pelas vastas vantagens desta última, afinal de contas, você não se compromete!
Comprei meu ticket em meio a uma confusão, não sei de que forma cheguei ao balcão de atendimento, só me lembro que depois de dizer meia dúzia de palavras sem nexo vi 8 anos de minha vida me virando as costas. Recebi uma papelada, acho que para apreciar o espetáculo da vida nas cadeiras da exclusão (bem desconfortáveis por sinal) eu precisava assinar as cláusulas de aceitação e de comprometimento com as minhas mais novas e infindáveis algemas. Lá devia dizer, sobre o caminho sem volta, sobre as inconstâncias de comportamento, sobre os novos olhares do mundo sobre mim, sobre o desconforto da cadeira, sobre o eterno vazio interno, talvez tivesse até abas com gostos profissionais e musicais... mas assinei sem ler. Assinei, sem ler. Leitura, só faltou isso... Se a confusão não tivesse me empurrado com tanto entusiasmo rumo a fila, mas talvez nem foi culpa dela, talvez foi culpa da minha enraizada preguiça, tinindo de alegria a ver uma fila pequena em meio a tantas filas extensas, o mais fácil me atraiu... acho que foi isso... Mas depois quando encaramos todo aquele burocrático processo, preferimos pular todas as etapas adequadas e recomendadas, e fomos direto para a assinatura.
A culpa é minha - isso não é nenhum tipo de auto-suplício, tenho dito - quanto comecei a tomar as primeiras censuras, severas, como sempre haveriam de ser, me tranquei em minha masmorra de sonhos e fantasia, onde vivo a nostalgia de anos que não vivi. Os julgo, impossível não os julgar, mas não retribuo com a censura (nem latente, nem pulsante). Apenas suplico, com eternos suspiros de arrependimento pela assinatura sem leitura, que me deixem, por mais singela que seja, participar das memórias de seus passados, não como a "nova-estranha", mas como a velha amiga. E incito, diplomáticamente e com solícitas palavras que abrandem seus olhos sempre que me verem passar, não por achar que seja construtivo a convivência pacífica da minha falta de lucidez com os seus tão requisitados comportamentos de super popularidade, mas por não querer que sujem mais o caminho que sigo, pois me adaptei, e nele só vejo flores. Suas censuras me enojam, e deixam, turvas, as águas de meu rio, que aprendeu, a correr seguindo o fluxo natural da vida.

sábado, 12 de junho de 2010

Um muro com um tijolo a menos, ou um tijolo que abandonou seu muro?

Faz muito tempo que não posto nada, e postei este texto no "Um dia de cada cor" (na verdade vai ser publicado no domingo, 13 de junho de 2010), achei muito digno postá-lo aqui, posso tentar aprimorar depois, mas o seu mérito vem por ser impulso de um sentimento que não era despertado em mim a algum tempo, acho que ele não recebe nome próprio, apenas deixa declarado que nem tudo acontece como esperamos, que muitas vezes os ressentimentos podem vir de formas variadas e que isso não significa condizer com a realidade, por fim planto a semente, as palavras deixam marcas, impactos e podem ser tão palpáveis quanto expressões.

Amizades que um dia já foram belas flores, mas hoje se encontram com suas pétalas caídas, não devem ser lembradas pelo "tempo das pétalas caídas", mas pelos campos floridos, pelo perfume no ar, pela compreensão que só as margaridas sabem dar, pela atenção que só as rosas podem oferecer, e principalmente pelos dentes a mostra que nem um bouquet de lírios consegue arrancar com tanta sinceridade.
Se fosse possível, por mim não seria dado o ponto final, mas algumas pessoas escolhem se enterrarem juntamente com antigos contextos, se fosse pra exemplificar com um fato histórico eu diria que o muro de Berlim se enterra junto com a finda guerra fria.
Mas não teríamos nós uma necessidade, quase tão mórbida quanto o próprio fim, de atribuir a tudo que é findo um aspecto negativo? Para que assim olhemos para frente como se o presente fosse, e o futuro será de alguma forma "melhor", mas não é necessário mais do que duas olhadelas para a distinção dos momentos para perceber que no fim não são maiores, nem menores, apenas, diferentes.

terça-feira, 16 de março de 2010

.

Como as pessoas não percebem? fazem do meu ideal de vida um produto, um slogam, uma pequena forma de atrair mais gente desinformada...
Não sei mais o que fazer, não quero que acabe assim... Como as pessoas são tolas.
O real intuito está tão estampado quanto o "adorável novo perfil empresárial"...
Estupidos, não há o que dizer, como acreditam disso?
Há quem venha defender, dizendo "antes isso do que nada"...
Prefiro o nada, a essa hipocrisia...
NÃO, eles NÃO querem a melhora.
NÃO querem a bem da humanidade, do meio ambiente e das relações sociais...
Eles querem a sua cabeça.
Brincam como se fossem todos bonecos, vez ou outra passam a mão encima da casa de bonecas e dizem "Desculpa, não vou te tacar mais essas velhas porcarias, vou lhe tacar porcarias novas, porque os bonecos não sabe o que são, vamos enganar eles dizendo que estamos cuidando da casa "
Quantas vezes vou ter que bater o pé?
Não é isso que eles querem, querem um mundo casa vez mais servo, cada vez menos nosso...
Nós pagamos para ter coisas que destroem aonde vivemos, mas é completamente ridiculo acharmos que todo esse movimento global tem realmente o intuito de diminuir o impacto...
Faça sua parte. rs

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O agrado que desagrada

Não nego a felicidade, não nego a alegria estampada em minha cara, sou grata, e tenho tudo o que quero...

Mas não me acho. Vejo a vida, eu amo a vida, eu quero tocá-la. Gosto das pessoas, das suas diferenças, da diversidade, das qualidades e dos defeitos, dos sentimentos, das pequenas e das grandes coisas, eu gosto de tudo que por menor quantidade que seja, contenha vida...

E sinto que tenho lá meu papel, ainda que não descoberto, ainda que me pareça intocável e que me sinta cada vez inútil em relação a tudo isso... Não suporto a atual situação do mundo, não acho que alguém mereça sofrer mais do que o normal. As pessoas sonham, tem vida e sentimentos, e pouco isso se faz notado pelos outros homens..

O mundo se move de ganância, de ambição e da maldade dos homens. Quase não há almas bondosas que olhem para baixo e vejam toda essa hipócrita situação... Não tem nexo, não faz conexão com nenhum ponto de vista coerente. Como existem situações dessa forma?

Como o homem consegue olhar para seus semelhantes e não se sensibilizar com a situação? Como todos conseguem ser tão regados de egoísmo, e tão permanentemente desinteressados na vida?

E é por isso, mesmo que não bem explicado, que eu olho com repulsa e enojada toda essa condição humana, todo essa maldita hipnotização pelos excessos...

Mas eu não vejo meus pés saírem do chão, não movo um dedo em direção a mudança, me sinto presa e não consigo voar. E talvez, quando eu encontrar o motivo de tal prisão eu venha dizer o que me prendia de fato, e como consegui me libertar...

Mas até lá, eu vou amando a vida, amando a diversidade, e indo, mesmo que quase sem mover, em direção a um futuro incerto que me agrada os olhos...

Rumo á vida.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

E tenho dito..


É involuntário, e é completamente o oposto daquilo que sempre tento ser... E nega-lo é não ser diplomática comigo mesma, me dá uma repulsa própria, e o sentimento acaba me parecendo cada vez menos importante e sendo desgastado, sufocando-o então cada vez mais com pequenas frases e considerações sociais sem importância.

A maioria espera algo de mim, mas nada menos importante do que eu mesma espero e o ponto desesperador é saber que quanto mais tento ir atrás do tão esperado perfil neutro e imaterial menos assim me torno, ou será que nunca cheguei a ser mais?

Eu disfarço sempre todo esse tumulto interno com um rosto calmo, mas que pode variar de exitado á decepcionado em segundos, mas normalmente deixo ele neutramente satisfeito, como se não tivesse nada pra reclamar. E realmente não tenho, não tenho nem o direito de reclamar, não se tratando dos outros, não se falando de fora...

O problema SOU eu, e ESTÁ em mim, eu insisto em coisas que já chegaram ao fim, procuro soluções inexistentes e me moldo a partir das situações, é como mentir pra si mesmo, só que não com a intenção de enganar, mas sim de aliviar as tensões...

Sempre me julgo superior, sempre trato os outros com um tom de voz "magnata de seda" e olhar de "cética fervorosa", facilmente listo coisas em pessoas, de problemas, defeitos, á desejos aspirações, e fico colecionando essas características, e em meio a tantos adjetivos perdi os meus, e virei uma grande sopa de interrogações...

Não fico satisfeita com as coisas que crio, e me sinto cada vez mais fútil e sem sentido... As vezes penso que perdi as coisas que conquistei e então percebo que no fundo nunca conquistei nada, foi tudo consequencia de momentos, exigências, situações...

Sempre falei do meu brilho próprio mas só vejo a minha necessidade de sujeito externo quando me sinto fragilizada e incapaz de gerar mudanças próprias.

Enquanto eu fico remoendo lembranças e me machucando por atos alheios, deixo cada vez mais toda uma questão que sempre me atrai e que de alguma forma sinto que preciso ir além.

E me parece cada vez mais profundo e difícil alcançar uma solução, porque em meio a tantas opções, as portas me parecem cada vez menos atrativas...

Talvez eu fique no saguão de entrada, porque infelizmente qualquer uma das portas que eu escolha tem alguém que eu importune.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Soluços de Rabanete


Não sei quando, nem onde foi escrito, imagino a situação a posso, ao longe, imaginar o velho motivo, mas aqui está o meu pedaço de papel reciclado, escrito com caneta azul e letra despojada e que na verdade colocava pra fora da alma aquilo que de te tão seco conseguia ser vivo, e que de tão fugaz se tornou áspero.
"Enche o olho de lágrima, esvazia a alma de dor. Em pequenas fatias se encontra a vida, como tortas de amora, goiaba e cereja, cada doce uma forma, cada forma um sabor. E na ponta do pé leva o sentimento, na cor rosa pérola que reluz os tons de olhos observadores... E com leveza com um toque de acorde que ao mesmo tempo é triste e feliz vai tecendo sua renda com detalhes e desenhos únicos e sem aroma definido... De tão leve voa, e se dissipa no ar, como som de piano bem tocado se perde dentro de si. E como flor em fim de vida, perde as pétalas mas não a sutileza, e morre deixando o cheiro ainda no nariz da bela que a recebeu de seu amante e agora chora pela perda da sua última e mais macia paixão."
Nem rodelas de pepino deixadas no canto do prato me pareceriam tão amarguradas, é muita asneira para um papel só.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Cosmopolita paradoxal




Os pés querem seguir para rumos indefinidos, distantes ou não. Os olhos estão famintos por paisagens com cores novas, a língua sedenta por novos sabores e claro os ouvidos ávidos por timbres diferenciados... não só de coisa, mas também de gente, não só de chão, mas também de substância. As mãos nunca hesitaram na exploração, pois sabem assim como o restante dos curiosos em mim presentes que tudo isto é seu, e que está ali para ser tateado, e os outros também sendo conscientes de tal aquisição degustam, farejam, atentam-se por tudo, e aproveitam. E temos portanto fome do novo e do velho, fome dos calos nos pés, e até mesmo dos olhos cansados e caídos após um longo dia de grandes aperitivos mundanos ou incorpóreos... Por que não há limites, por que não há fim... Mesmo que levantem todas as pedras e pedregulhos para descobrir qual areia está ela cobrindo, essa mesma e todo o seu contexto mudam, e passam a ser novamente objetos aptos a apreciação, e mesmo que nem uma breve brisa a deslize é possível ser observada e mesmo assim observar novas e velhas características e ficar deslumbrado e maravilhado com tanta sutileza e dinâmica. E por isso sempre aparento a cara de míngua, pela minha insaciável necessidade de tatear, mesmo o que já foi apalpado...


Mas o que impede a minha livre cavalgada não é o medo da cavalaria que diz acompanhar, o que impede são meus passos em desacordo, a minha completa falta de disposição ordenada, tanto em sentimentos e pensamentos como em minha pintura dita obrigatória e que pedem ser sempre apresentável... A cavalaria não me incomoda e minhas meias velhas não me deixam confusa... O que contorce minha ponderação atenciosa, e o que me faz sempre, ou quase sempre, sentir como fator de peso para as minhas bruscas freiadas pode ser chamado ou classificados por algo como um "mal auto conhecimento", e tudo isso pelo simples fato de nunca me encontrar em um lugar que esteja basicamente agradável por inteiro, nunca estar com pessoas que me tratam completamente como eu idealizei... o que me impede o aroma das plantas é a má interpretação da vida, e essa necessidade eterna de extremismo, ou é romantico, ou é real - e nunca meio termo - é um eterno "cobrar sem palavras", e uma eterna máscara pintada na cara, dizendo " Ei! Olhe pra mim, não vê como não me importo com nada?! Venham, sou legal, e não vou te tratar mal, por que eu nunca me importo, não vê como sou desligada?! Não vê como sou animada e tranquila?! Comigo nada é problema..." quando na verdade, cada vez mais a única coisa que me torno, é um próprio problema...

domingo, 9 de agosto de 2009

Palco de mentiras


Ainda estou meio sonolenta, as palavras que deslizam pelos cantos da boca não saem com o entusiasmo com que sempre tento passar... Ainda não tomei café, ainda não tomei o liquido forte para abrir os olhos. Tudo que faço é arrastar os pés pelo chão frio da casa, caminhar os poucos metros quadrados que me rodeiam e dizer para as paredes o que ninguém quer ouvir... Escuto discos que não me completam, e analiso passados que não me pareciam a minha conduta em essência... Folheio livros, cadernos, fotos, papéis, e tudo o que me parece sólido e real, acaba em cada minuto, se tornando mais liquido e abstrato, não podendo assim, conter tudo em minhas mãos, pois escorre e vai sempre em direção ao chão.

Não importa quantas vezes você se levante, a gravidade sempre lhe levará ao chão, não importa quantas vezes suas cicatrizes sejam curadas, elas sempre vão deixar marcas, e volta e meia alguém repara e diz: "como as conseguiu?', e daí vem toda aquela velha história de desenhar a cena, as vezes com um certo tom de orgulho, outras de desprezo e necessidade de dizer que foi em um passado distante...

Toda uma descrença, uma desilusão, refletida em olhares distantes, e falas mortas. Todo uma critica hipócrita e mal feita, sussurrada com um ar de prepotência falida... Participo do grupo que tem a arte de fingir ser diferente, sendo a mesma massa controlada de sempre...

E assim me faço cada vez menos alguém, com a suspiros interrogativos, e as falas desgastadas...

Sejamos francos, não há nada além de espinhos em rosas e pétalas pisoteadas... (ou há?)


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Silêncio abrangente


O silêncio que abrange a alma como forma de recuperar os sentidos trás consigo o doce sabor de frutas frescas.
A grama verde entre os dedos, a encostar delicadamente, não apenas em tua pele, mas também em tua alma, floresce, e transforma em flor toda a massa acinzentada de fuligem.
Não há nada além de essência, de ar puro que enche os pulmões, de olhos preenchidos com horizontes esverdeados.
Em pequenas sutilezas, com gestos e olhares tão profundos quanto poço de desejos sem fim, e ao mesmo tempo tão superficiais quanto colherzinha de café meio cheia.
Toda uma história, uma sabedoria, passada pelas paredes velhas, sujas e repintadas varias vezes, todo um tom de seriedade misturado com infância e doce de leite.
Não há nada além de você, o mato, e pessoas que mesmo que o tempo passe e você perca contato ainda terão o mesmo olhar sincero e acolhedor de sempre.
É belo e limpo por si só, o que mais o embeleza é a leveza na qual comove e cativa.

sábado, 11 de julho de 2009

sentimentos dissolvidos no nada.


E a imagem paralisada ia se dissolvendo, se dissolvendo do nada... Sumindo, virando ar, não havia cor, não haviam motivos.. Apenas sumia.

Se apagava a chama (chama de quem? da vida, da pessoa, ou a minha?)... Tentaram me provar que chama era a vida, que andava sem brilho por toda parte... Mas eu abri a janela e senti o vento, o vento que sempre me acolhe, é só o vento meu refugio, como se em uma sopa de sentimentos, só o vento que me tira da afogada massa amolecida...

Não, não era a vida que morria... ela morre, mas ainda tem perfume.

Então me disseram que a pessoa que se dissolvia, porque ela se perdia nas estradas mal desenhadas... Porque o mapa não lhe apontava nunca o caminho certo. Não era bem assim, os outros nunca vão ter culpa de você se matar... Ninguém te faz sofrer, você mesmo que se faz sofrer... Se a bússola da pessoa não aponta pro norte, é apenas mais uma caracteristica que temos em comum.

Logo a culpa não era em segunda pessoa, a chama não se apagava nos outros, não era alguém que se esfarelava no ar.

E por fim consegui fazer o que tantos fiz fazerem, me olhei no espelho, e é claro, com a tal taxa de necessidade de respostas em alta, me vi da forma mais suja possível... Mas o que doía, não era a imagem suja, era saber que era a verdade.

Se você não merece chocolate, você não ganha. Se não pode comer biscoito antes do almoço, não vão pegar o pote acima da geladeira.

Me dissolvo porque parei de olhar as flores para buscar o biscoito.

Me apago da cena, por medo de brilhar mais do que devia, ou de não corresponder às expectativas.

O problema, é fazer disso uma coisa bela.

Minha conduta não é digna de elogios, tudo o que faço a magoar quem não merece.

Mentir para um ser que espera uma resposta, já não é aceitável, quando se mente pra si mesmo é pior ainda... Mas e quando não se sabe a resposta?

Desejar a presença de quem quer que você esteja lá, só é puro quando vem do sentimento.

E quando não se sabe de onde vem?

Podem ter formas de se esconder da chuva, das flores, das árvores... Você pode se esconder da vida.

Você pode fugir de uma pessoa, se esconder em baixo de vários panos e máscaras, e passar aquela imagem pálida de quem "não sabe do que estão falando".

Mas você nunca fugirá de você mesmo, por mais que tente não se auto-escutar... Você está ai, tem pele, tem pelo, tem olhos, boca, nariz... e disso, do material, você consegue ignorar...

Mas e a alma? Ela não se cala, ela não te ignora, até porque você é ela mesma.

E por mais que passe anos evitando responder a ela "onde você está", um dia a cobrança será tão forte que se não achar uma forma de responde-la, você desaparece...

O meu problema é achar a forma de responde-la.

Aonde estou?

Caixa de lembranças